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Você seria capaz de escrever 800 páginas à mão, com uma caneta?

Marcos Chiquetto 2 maio 2023

O primeiro trabalho grande da nossa agência de traduções brasileira, na década de 1980, foi a tradução de inglês para português dos manuais de um pacote de software de banco de dados: um tijolo de 800 páginas.

Naquela época, há quase 40 anos, tradutores eram profissionais da área de humanas, que raramente possuíam um computador. Naquele trabalho em particular, nosso tradutor recebeu um original em páginas impressas e escreveu a tradução à caneta.

Em seguida, um profissional de informática digitou tudo em um Apple II (Avô do Mac).

O Apple II era o sistema preferido em trabalhos de publicação de textos na década de 1980.

O texto digitado passou então por revisão técnica por um especialista em software. Depois, um profissional de artes gráficas preparou-o adicionando parâmetros de formatação, e o arquivo foi para um birô de fotocomposição, que gerou as páginas num rolo de papel fotográfico.

− Por quê não usaram um software de DTP? Teria sido muito mais simples!

Porque não existia DTP (Desktop Publishing, ou, edição gráfica na sua própria mesa) ainda. Não havia recurso para trabalhar com artes gráficas na sua mesa de trabalho Era preciso um caro sistema de fotocomposição para formatar texto.

Um sistema típico de fotocomposição usado na década de 1980. A parte mais à direita é a unidade de saída, que produzia o texto formatado num rolo de papel fotográfico. O arquivo de texto com parâmetros de formatação era inserido na máquina por meio de discos flexíveis, usando as unidades de disco (painéis pretos ao lado dos botões verdes e vermelhos).

Próximo passo: o material em papel fotográfico passava por revisão final, para identificar erros de digitação ou de formatação.

A revisão final era feita à caneta no material impresso, usando um código de revisores para que o operador de computador pudesse entender as correções e implementá-las no arquivo de computador (nesta imagem, o texto revisado está em inglês, diferente do nosso exemplo, onde ele estava em português).

Com base nas marcações do revisor, o arquivo de texto era corrigido, e as páginas alteradas eram impressas novamente para uma nova revisão. Esse processo se repetia até que o manual não tivesse mais erros.

Então, o manual tinha que ser impresso. Para isso, o material em papel fotográfico era enviado a uma gráfica, uma empresa que, naquele momento, estava começando a operar com fotocopiadoras industriais para grandes volumes.

Xerox 8200, uma das primeiras fotocopiadoras industriais, foi muito utilizada na década de 1980.

Na gráfica, o manual foi copiado do papel fotográfico para folhas de papel sulfite tamanho A-4. Então, as páginas foram cortadas no tamanho correto com uma guilhotina industrial e furadas para serem montadas em fichário, e o pacote foi envolvido em uma embalagem plástica à vácuo.

Os manuais, finalmente, podiam ser entregues aos felizes compradores do software, com uma bonita capa plástica para montar as páginas.

− E quanto tempo demorou tudo isso?

O processo inteiro demorou seis meses.

− Quê?? Seis meses para traduzir um manual de software? Tá brincando!!

É verdade. É inacreditável. Hoje, o tempo de vida útil de um produto de software pode ser da ordem de meses. Se o processo de tradução levar seis meses, o material traduzido provavelmente já vai estar desatualizado quando ficar pronto. O processo não pode demorar tanto.

− E como isso é feito hoje?

Pensemos no exemplo anterior. Um texto de 800 páginas tem algo em torno de 400 mil palavras. Um prazo de entrega aceitável para essa tradução hoje seria 40 dias.

Hoje, não receberíamos um original impresso, mas, sim, um arquivo eletrônico, já formatado por algum software de formatação, que poderia ser o MSWord, ou por uma ferramenta de DTP, como o Indesign.

Página típica em Indesign, como ela é vista na tela do computador

Estes são os passos de execução do trabalho:

Primeiro, os arquivos são importados numa ferramenta de memória de tradução (veja nosso artigo sobre memória de tradução).

O mesmo arquivo na ferramenta de memória de tradução, que é o ambiente de trabalho do tradutor hoje. O original está na coluna da esquerda e a tradução, vinda da memória ou digitada pelo tradutor, é inserida na coluna da direita.

Em nosso exemplo, vamos supor que as repetições e o aproveitamento de memória correspondam a 40% do texto, diminuindo o volume real de tradução para 240 mil palavras.

Neste ponto, é preciso decidir, junto com o cliente, se será utilizada tradução automática no projeto. Em nosso exemplo, vamos supor que foi decidido utilizar esse recurso. O material é, então, passado pela tradução automática, gerando um conjunto de arquivos pré-traduzidos.

Com um total de 40 dias disponíveis, podemos programar 30 dias para a fase de tradução. Para traduzir esse volume em 30 dias, partindo da pré-tradução feita pela tradução automática, serão necessários dois tradutores.

Na medida em que a tradução de cada capítulo fica pronta, ela é enviada para um terceiro tradutor para edição, isto é, revisão e padronização. No final dos 30 dias, o editor já revisou uma grande parte do material, precisando de apenas uma semana adicional para terminar tudo. Assim, em 5 semanas (35 dias), o texto final traduzido está pronto.

Temos agora 5 dias para o prazo de entrega estabelecido.

− Mas ainda falta formatar e imprimir tudo!

Bem, agora vem a melhor parte: tudo isso foi feito em um arquivo já formatado, cujos atributos visuais foram preservados pelas ferramentas de software. O texto traduzido já sai inteiramente formatado. Só é preciso revisar as páginas para corrigir erros introduzidos pelos tradutores e adaptar as páginas ao novo idioma.

E, por último, e não menos importante, não há nada a imprimir: o documento é entregue em um PDF (veja nosso artigo sobre PDFs), portanto, só temos que dar saída em PDF quando o material está pronto.

É isso. Em 40 dias, o manual está traduzido, finalizado e entregue.

Uma melhora considerável comparando-se com o prazo de entrega de seis meses!

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