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Afinal, tem luz do lado escuro da Lua?

Marcos Chiquetto 4 maio 2023

ALua, quando vista da Terra, passa por quatro fases: Nova, Crescente, Cheia e Minguante. A figura seguinte mostra essas fases ao longo da trajetória da Lua em volta da Terra.

Fases da Lua

Na Lua Nova, ela ocupa no céu uma posição próxima ao ponto onde vemos o Sol, cuja luz nos impede de vê-la. Portanto, a Lua Nova é a fase na qual não vemos a Lua.

Passada a Lua Nova, vem a fase Crescente, quando a Lua aparece no final da tarde próxima ao horizonte leste, mostrando-se parcialmente iluminada pelo Sol.

A cada dia da fase Crescente, aumenta a parte iluminada que vemos, até que a Lua aparece inteiramente iluminada, na Lua Cheia.

Finalmente, ocorre a fase Minguante, quando ela surge no horizonte de madrugada, mostrando outra vez só uma parte iluminada, que diminui a cada dia, até se iniciar outra Lua Nova.

Lua vista da Terra nas fases crescente e cheia. O observador está na região onde é noite na Terra (veja essa posição na figura anterior).

— Peraí. Dá só uma paradinha. Olhando a primeira figura, fiquei com uma dúvida. Na Lua Cheia, há um momento em que a Terra fica bem na frente da Lua, bloqueando a luz do Sol. Como vemos a Lua? A Terra não faz sombra sobre ela nessa noite?

O problema é que aquela figura não está em escala. Desenhando em escala, esses dois corpos celestes vão ficar muito pequenos em relação à distância entre eles. A figura em escala seria esta:

Como você pode perceber olhando essa figura, é preciso muita “pontaria” para a sombra da Terra cobrir exatamente a Lua. Isso pode acontecer, mas é um fenômeno raro, que denominamos eclipses da Lua. Também é muito raro a Lua cobrir a luz do Sol na Lua Nova, que é o caso das eclipses do Sol.

— OK. Tá explicado. Pode continuar.

Vamos agora ver o que acontece no início da Lua crescente, isto é, quando acabou de terminar a Lua Nova.

Início da fase crescente

Nesse ponto do ciclo lunar, um observador posicionado no ponto assinalado acima deveria ver a Lua desta forma:

Lua como deveria ser vista no início da fase crescente

No entanto, não é exatamente isso que acontece. Quando a Lua está entrando no crescente, o que se vê é isto:

Lua como é realmente vista no início da fase crescente

— E daí? Qual é a diferença tão importante?

A diferença é que a região que deveria estar completamente escura aparece levemente iluminada, e nós conseguimos ver perfeitamente a esfera inteira da Lua. Esse fenômeno se chama “luz cinérea” (do latim, “cinnoereus”, cinzento).

A pergunta central deste artigo é: de onde vem a luz que ilumina o lado escuro da Lua nesse momento? Diretamente do sol não vem, pois a metade iluminada da Lua faz sombra total sobre a outra metade.

A resposta a essa pergunta é uma das coisas mais maravilhosas do nosso universo visível: essa luz vem da Terra.

— O quê? A Terra ilumina a Lua?

Sim. A figura seguinte mostra isso:

A luz do Sol refletida pela Terra ilumina o lado escuro da Lua.

A Terra reflete a luz do Sol, espalhando-a em todas as direções, inclusive na direção da Lua. Essa luz ilumina suavemente o lado escuro da Lua. Por isso, podemos ver a esfera inteira da Lua nesse momento.

Se uma pessoa estiver na superfície da Lua no ponto assinalado na figura seguinte, ao olhar para o céu ela vai ver a Terra como um enorme globo luminoso produzindo um intenso “luar” (“terrar” seria o termo mais correto).

A Terra produz na Lua uma iluminação noturna semelhante ao luar que a Lua produz na Terra.

Ou seja, do mesmo modo que a Lua ilumina a Terra à noite com o luar, a Terra também ilumina a Lua na noite lunar. Essa é um exemplo maravilhoso da simetria do universo. Qual é a diferença entre a Terra e a Lua? Exceto o tamanho de cada uma e o fato de haver vida na Terra e não na Lua, não há diferença essencial entre elas. São dois corpos celestes girando no espaço um ao redor do outro. Se a Lua ilumina a Terra na noite da Terra, por simetria, a Terra deve iluminar a Lua na noite da Lua. E é exatamente isso que acontece.

A foto a seguir foi tirada na Lua, mostrando a Terra no céu e o “luar” produzido pela luz solar refletida nela.

Foto tirada da Lua, mostrando a superfície lunar iluminada pela luz solar refletida pela Terra

O que eu vou dizer agora, não vou explicar, porque o raciocínio ficaria complicado e difícil de acompanhar num texto escrito. Mas eu convido você a formular seu próprio raciocínio para chegar a essa conclusão, que é bastante fácil. Olhe a primeira figura deste artigo. Quanto mais fininha vemos a Lua daqui da Terra, isto é, quanto mais próximo estamos da Lua Nova, maior a Terra será vista da Lua. Bem no meio da Lua Nova, uma pessoa no lado escuro da Lua vai olhar para o céu e ver “Terra Cheia”.

“Terra Cheia” fotografada pela sonda japonesa Kaguya, em órbita ao redor da Lua. Na Terra, estávamos na fase de Lua Nova, ou seja, a Lua não era visível por estar perto do Sol no céu.

Portanto, a iluminação noturna produzido pela Terra na Lua é mais intensa quanto mais próximo estivermos da Lua Nova aqui na Terra, ou seja, quanto mais fininha for a fatia da Lua visível para nós. É por isso que a luz cinérea só é visível quando a Lua está bem fininha.

Nós descrevemos aqui a luz cinérea que acontece no início da fase crescente, quando a Lua surge no horizonte no começo da noite. Ela também é visível no final da fase minguante, quando Lua é visível no final da noite.

Eu não canso de admirar a luz cinérea. Toda vez que a Lua está iniciando o crescente eu fico ali, olhando aquela bola que se mostra tão linda, tão esférica, tão tridimensional. E fico pensando: como será que a Terra está aparecendo lá neste momento? Será que o “luar” lá tá forte hoje?

Na próxima Lua Crescente, olhe para ela. Acho que você vai sentir alguma coisa bonita também.

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