Tecnologia nas traduções: sistemas de memória de tradução
28 abr 2023Até a década de 1980, profissionais de redação (escritores, jornalistas, tradutores, redatores de documentos técnicos etc.) escreviam com máquinas de escrever, ou mesmo, caneta. Se quisessem reaproveitar alguma coisa escrita anteriormente, o método era um só: recortar o trecho e colar no novo texto.
Isso não era muito simples. Muitas vezes era mais fácil escrever tudo do zero do que reaproveitar pedaços.
A partir dos anos 80, a atividade de redação migrou para o computador. Hoje, ninguém mais sabe usar uma máquina de escrever e muita gente nem consegue mais escrever com caneta. Entre outras mudanças trazidas por essa tecnologia, uma das mais importantes foi a possibilidade de reaproveitar material já escrito: basta copiar o que quiser e colar no texto que está escrevendo.
Se você examinar dois manuais de produtos parecidos da mesma empresa, verá que eles têm muito texto em comum, porque o redator reaproveitou em um manual, pedaços do outro. Isso é mais evidente ainda no caso de versões sucessivas de um produto. Se você examinar, por exemplo, o manual de um celular recém-lançado, provavelmente vai identificar trechos do manual da versão anterior.
O reaproveitamento de texto pode trazer muita economia quando se quer traduzir os documentos, pois partes de traduções já feitas anteriormente podem ser reaproveitadas em novas traduções. Para viabilizar esse reaproveitamento, desenvolveram-se a partir da década de 1990 ferramentas de software de memória de tradução: sistemas que segmentam por frases (ou por outros critérios configuráveis) as traduções, na medida em que são feitas, armazenando-as em tempo real em um banco de dados. Para cada novo texto a ser traduzido, o sistema faz previamente a análise do trabalho, comparando os segmentos do novo texto com os segmentos que ele já tem no banco de dados. O resultado da análise inicial vai dizer que volume de texto terá quer efetivamente traduzido, e a tradução vinda do banco de dados será automaticamente posicionada no lugar das frases originais.
Por exemplo, uma agência de traduções recebe uma nova versão do website de um cliente para traduzir. As versões anteriores já haviam sido traduzidas por essa mesma agência, portanto ela já tinha a memória das traduções anteriores. O volume total do website é 45.000 palavras. Se a agência não trabalhar com memória de tradução, será esse o volume a ser faturado para o cliente. Mas a análise informa que 78% do texto já está na memória de tradução. Isso significa que resta para ser traduzido 22% do volume total, ou seja, 9.900 palavras. O cliente economiza, portanto, o custo de traduzir 35.100 palavras. Além disso, o prazo de execução do serviço será reduzido para apenas alguns dias.
Um sistema de memória de tradução também melhora a consistência da terminologia e do estilo quando se traduzem vários documentos diferentes, porque o material que já tinha sido traduzido anteriormente estará reproduzido de forma idêntica nas novas traduções. Além disso, mesmo que uma determinada sentença nova não esteja na memória de tradução, suas palavras poderão estar lá, e o o tradutor poderá buscá-las para traduzi-las da mesma forma que foram traduzidas em trabalhos anteriores.
Alguns exemplos de sistemas de memória de tradução atualmente disponíveis no mercado são SDL Studio, MemoQ e WordFast.
A memória de tradução promoveu uma revolução radical no negócio das traduções. É simplesmente inconcebível alguém, hoje pretender trabalhar com traduções sem essa ferramenta.
Felizmente, essa foi uma revolução que veio para trazer benefícios tanto para o tradutor quanto para o cliente.
Marcos Chiquetto is an engineer, Physics teacher, translator, and writer. He is the director of LatinLanguages, a Brazilian translation agency specialized in providing multilingual companies with translation into Portuguese and Spanish.