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O problema QWERTY

Marcos Chiquetto 4 maio 2023

Os economistas denominam “problema QWERTY” o tipo de problema originado quando normas são seguidas apenas por costume, mesmo que não gerem os melhores processos na tecnologia disponível. Esse estranho nome vem dos teclados que usamos para escrever.

Praticamente todos os computadores do mundo, assim como os celulares e tablets, usam a mesma configuração de teclado, que é basicamente esta:

Q W E R T Y U I O P
A S D F G H J K L
Z X C V B N M

Será que, hoje, um engenheiro encarregado de projetar um teclado entregaria algo assim?

Para responder a essa pergunta, vamos examinar esse desenho. As consoantes D, F, G ,H, R, T, V, B são todas vizinhas, mas dificilmente seriam vizinhas numa palavra, pois precisam das vogais para formar sílabas. A vogal A, que é uma das letras mais utilizadas, fica no canto esquerdo, e as vogais U, I, O estão aglomeradas no canto direito, todas distantes das consoantes, com as quais formam a maioria das sílabas. Para escrever nesse teclado, a pessoa tem que pressionar muitas sequências de teclas distantes entre si, o que dificulta o trabalho.

Esse teclado não foi projetado pensando na facilidade dos movimentos ao escrever. Ele surgiu há 150 anos, quando as máquinas de escrever mecânicas começaram a se popularizar. Naqueles equipamentos, cada letra era escrita batendo um pequeno carimbo (ou “tipo”) numa fita com tinta, imprimindo a letra no papel, que ficava atrás da fita. O problema era que esses carimbos eram movidos por hastes de metal que enroscavam umas nas outras quando a pessoa escrevia rápido, pois uma haste avançava enquanto a anterior ainda estava voltando. E isso era pior quando as hastes eram vizinhas entre si, ou seja, quando as teclas eram vizinhas. Para amenizar o problema, por volta de 1870, o norte-americano Christopher Sholes desenhou um mapa de teclado que separava as teclas que apareciam com maior frequência em um texto ou que formassem sílabas frequentes. Assim, a probabilidade de duas hastes se tocarem diminuiu e as pessoas puderam escrever à maquina mais rapidamente.

Esse teclado ficou conhecido com teclado QWERTY e se tornou um desenho universal, utilizado até hoje, mesmo não havendo mais carimbos ou hastes. O desenho se manteve por uma razão muito simples: todos aprendem a digitar com ele e evitam outras alternativas para não ter que reaprender. Se um novo teclado for oferecido, você pode até achar uma ótima solução, mas provavelmente não vai usar para não ter que reaprender algo que já sabe.

A oposição entre os hábitos enraizados e as melhores soluções é muito comum e ficou conhecida como Problema QWERTY. Para ilustrar a ideia, os autores citam o exemplo de uma mulher que aprendeu com sua mãe uma receita de carne assada. A mãe, por sua vez aprendeu com sua mãe e assim sucessivamente, a receita veio passando de geração em geração. Nessa receita, antes de assar, cortava-se a pontinha da carne. Como o resultado era delicioso, a receita se manteve inalterada ao longo do tempo. Um dia, alguém resolveu investigar porque era preciso cortar a pontinha e descobriu que a fôrma da bisavó era muito curta. Receita QWERTY.

Ah. Caso você se interesse, existem desenhos de teclado voltados para facilitar a escrita. O mais famoso é o teclado Dvorak, patenteado por August Dvorak em 1932. Se quiser experimentar, baixe no celular o aplicativo Dvorak Keyboard.

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